Equipe ou EUquipe?

Jerônimo Mendes, administrador, escritor e palestrante, autor do livro "Oh Mundo Cãoporativo!" (Qualitymark), diz que o mundo corporativo é semelhante a uma constelação, onde algumas estrelas brilham mais do que outras. Inevitável! Porém, digo nas minhas palestras que o céu possui muitas estrelas e nenhuma delas precisa ofuscar a outra para brilhar.

O espírito de equipe é um discurso muito bonito para estes profissionais bons de jogo de cintura, "travestidos de líderes", segundo Jerônimo. Sabem qual é o momento de aparecerem e a palavra certa para se destacarem na sua EUquipe. Presentes nas mais diversas camadas da sociedade, não apenas nas empresas, são pessoas competitivas, que escalam sua trajetória baseado no que o outro está fazendo ou deixando de fazer, por uma falha na capacidade de traçar seu próprio rumo.

Perderam a medida entre a importância da função, que certamente deve ser reconhecida, e a tola vaidade, que as levam para um pedestal sustentado por bajuladores conquistados por afagos manipuladores. As pseudo-estrelas corporativas estão com seus dias contados, porque se enforcam na própria corda; destroem seu próprio glamour, de tão ansiosas e ávidas por ele. Não existe mais espaço para profissionais que minam as forças do grupo. O investimento em performance de atitude está crescendo cada vez mais e os gestores e líderes estão cada vez mais conscientes, informados sobre os comportamentos de seus liderados.

Mesmo assim, é interessante como as estrelas desqualificam a capacidade dos demais seres (simples mortais, não tão dotados de tanto brilho), ao perceberem as manobras para brilhar de forma indigna, detonando talentos que se afastam do jogo. "Vamos ver quem é que manda?".

O profissional seguro, que se constrói dia-a-dia, é uma estrela cujo brilho acontece naturalmente, como conseqüência de suas atividades edificantes. Por incrível que pareça, ele está sempre achando que ainda tem muito a aprender. Apenas trabalha. Recua e silencia diante do barulho. Não entra em disputas de poder, porque não precisa provar para si nem para o mundo o seu valor.

Há uma grande diferença entre focalizar a carreira e enfocar o trabalho. Os carreiristas não estão preocupados com o trabalho. Sabem se posicionar brilhantemente nas situações que favorecem o crescimento pessoal, independente do que vai acontecer com a empresa. Eles investem nos resultados imediatos para alimentar a ascensão imediata almejada. O que vai acontecer lá na frente não está no rol de suas preocupações, porque quando o barco começar a afundar, eles serão os primeiros a saltar dele. Mudam de setor ou de empresa com excelentes propostas e acabam mais valorizados ainda. Sabem mentir, omitir, falar o que convém, mostrar o que lhes interessa.

Os trabalhadores constroem suas carreiras com foco no trabalho. As promoções são mais demoradas para eles. Muitas vezes nem acontece, porque eles são tão necessários nas suas funções, que promovê-los seria abrir mão da competência deles naquele patamar já atingido.

Estou de acordo com Jerônimo Mendes: o que mantém o brilho duradouro nas "estrelas" são o caráter e a humildade; caso uma popstar corporativa apareça em seu caminho, tenha muita paciência com ela e agradeça, pois você está diante de uma grande oportunidade de desenvolver sua habilidade emocional. Vai ter amplas chances de exercitar sua tolerância; de administrar a raiva, principalmente; vai experimentar o medo de ser engolido (como são gulosas e insaciáveis estas pessoas!) e, por fim, a tristeza por ver que existem pessoas que não são dotadas de uma capacidade mais altruísta de relacionamento, ainda atoladas na mediocridade das atitudes egocêntricas.

Não tente fazer justiça com as próprias mãos; "você não pode mudar este processo, pois é vítima dele". Tal como o autor, acredito que o tempo e o próprio Universo se encarregam de colocá-las no seu devido lugar.



Kátia Ricardi de Abreu